17 março 2012

Cruzando o Caminho do Sol, de Corban Addison

Resenha da semana é uma coluna na qual Ana dá sua opinião a respeito do livro lido no momento, com direito a trechos e informações completas sobre a obra e o autor. Postada aos sábados.
Título: Cruzando o Caminho do Sol
Título original: A Walk Across the Sun
Autor: Corban Addison
Tradução de: Mariângela Vidal Sampaio Fernandes
Editora: Novo Conceito* (cortesia - editora parceira)
Número de páginas: 447
ISBN: 978-85-8163-009-0
Gênero: Drama; Literatura Estadunidense; Ficção
"Para as milhares de pessoas mantidas em cativeiro pelo tráfico sexual.
E para os homens e as mulheres do mundo inteiro que, com seu trabalho heroico, lutam incansavelmente para conquistar sua liberdade."
Uma das possibilidades mais louváveis que a Literatura nos permite é a capacidade de viajarmos por todo o mundo, de transcendermos culturas e costumes dos mais distintos povos, vindos de todos os cantos do planeta. Em Cruzando o Caminho do Sol, mais uma vez, fui de encontro a uma Índia de tradições milenares e uma rede de crimes assustadores contra o ser humano que marcam a trajetória das duas irmãs protagonistas, Ahalya e Sita.

Corban Addison utiliza-se, como pontapé inicial, do tsunami que assolou o sudeste da Ásia no ano de 2004 para dar vida a uma história fictícia, mas que poderia e pode estar ocorrendo com qualquer garota indiana ou de todo o mundo neste exato momento. Ahalya e Sita, sua irmã caçula, vêm de uma família de classe média indiana e moram na costa do país: levam uma vida cômoda e tranquila ao lado de seus pais e da avó, que as apoiam em sua educação e em qualquer coisa necessária, até o momento em que a grande onda se aproxima da praia e as duas garotas só têm tempo de prenderem-se a dois coqueiros, responsáveis por salvar suas vidas. Infelizmente, entretanto, todos os outros habitantes da casa não resistiram à força do mar e morreram, deixando-as à mercê da própria sorte. Em meio a muito sofrimento e medo, partem em busca de auxílio e transporte para a cidade onde fica a escola em que estudam, mas caem em uma armadilha e acabam sendo vendidas a um bordel clandestino que negocia a virgindade de Ahalya, a irmã mais velha, e escraviza todas as esperanças restantes nos corações de ambas.

Paralelamente a isso, nos Estados Unidos, temos Thomas, um advogado que acaba de ser abandonado por sua esposa indiana e que, na mesma semana, presencia um terrível sequestro de uma menina de poucos anos que o remete à sua filha morta. Sensibilizado com a situação e vivendo um momento de crise no emprego, recebe uma proposta de ser voluntário em Mumbai, Índia, numa ONG chamada ACES, responsável por tentar extinguir o tráfico sexual e recuperar meninas menores de idade perdidas em meio a esse mundo de dor e tristeza. Sutilmente, ao longo do enredo, a história das irmãs indianas e do advogado americano hão de se encontrar para formar uma narrativa que emociona, angustiante e dramática, inebriada dos melhores, e também dos piores sentimentos humanos.

É notável por algumas postagens do blog o apreço e a curiosidade que sinto pela cultura asiática, especialmente em tratando-se da Índia, um país semelhante ao Brasil no que diz respeito a desenvolvimento e economia, mas muito diferente em alguns costumes e problemas. Logo, quando tive a oportunidade de ler este volume que, se não me falha a memória, é um pré-lançamento, não tardei a me introduzir na história de Ahalya, Sita e Thomas. E, de verdade, como me emocionei!

Num primeiro momento, o leitor há de se horrorizar com a realidade em torno do da indústria ilegal do sexo. É cruel presenciar a quantidade de moças e até jovens meninas que têm todos os seus sonhos fadados à desgraça ao serem vendidas, sem qualquer pudor, completamente despurificadas a homens poderosos que estão ligados até mesmo à polícia indiana, capaz de fechar seus olhos a todo o mal por qualquer propina... Addison disseca o mundo podre da criminalidade indiana e, dando ao seu leitor a possibilidade de tal conhecimento, também mostra órgãos que tentam solucioná-lo e estimula qualquer auxílio que possamos dar. O trabalho de Thomas e de todos na ACES (ONG fictícia) é louvável e serve como modelo humano de bondade e bravura, tendo em vista os tantos perigos que envolvem cada ação, sempre com grandes chances de fracasso.

Acima de tudo, é impossível não nos envolvermos e não torcermos todo o tempo para que as vidas de Ahalya e Sita caminhem para um final feliz. Em diversos momentos, senti uma enorme compaixão por elas, responsável por me arrancar lágrimas silenciosas. Thomas também pode ser muito simpático ao leitor em sua condição de herói. Passível de erros, mas inabalavelmente heroico.

Por detrás de toda a maldade e do lado ruim em Cruzando o Caminho do Sol, todavia, temos uma corrente de sentimentos bons que contagia cada uma das 447 páginas do livro: a esperança pura quando nada mais o é; o amor fraterno que une Sita e Ahalya num laço mais forte que qualquer certeza em suas vidas; a perseverança de Thomas em salvar vidas caídas em desgraça e uma narrativa bela e consciente, que sobrepõe toda a feiura das tristezas do mundo e toda a ignorância que permeia o silêncio dos inocentes.
‎Ela sempre se lembraria da pessoa que ela foi e da Índia que conheceram antes de toda aquela loucura. O mundo podia roubar sua liberdade; podia acabar com sua inocência; podia destruir sua família e arrastá-la por caminhos para além de seu entendimento. Mas não podia privá-las de sua memória. Apenas o tempo tem esse poder, e Sita iria resistir a todo custo."
Avaliação Geral: 
Nota 4 de 5 (Muito Bom)

Um bom sábado a todos!


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