23 abril 2012

Aos amigos, aos livros


Eu nunca acreditei naquele papo esquisito de gente que alega não gostar de ler. Apesar de descrente, sempre tive em mim a forte esperança e uma verdade imutável de que algum dia, em determinado momento de nossas vidas, um livro haverá de nos encantar. Para tudo uma primeira vez, para a literatura um conjunto de sensações acompanhados de palavras. Com uns acontece mais cedo, com outros pode vir a tardar...

Não fui uma leitora precoce, no sentido menos amplo da palavra. Aprendi a ler com a mesma idade que a maioria das crianças, aos tropeços nas sílabas mais difíceis, ao escrever dígrafos aparentemente indecifráveis que embaralhavam minha mente de letras. O que talvez tenha vindo a me distinguir, aos 6 anos, entretanto, foi o encantamento que os escritores desde cedo provocaram em mim com a força de sua retórica, com a magia que havia naquele simples ato de criar castelos e fazer com que seus leitores o habitassem.

Quando se descobre a literatura na infância, a vida se torna mais doce e colorida, os sonhos voam mais longe, o farfalhar das páginas converte-se nos amplos voos de um condor, livre, ou na velocidade com que a serpente que envolve a maçã do conhecimento rasteja; o fruto antes tão proibido, repentinamente dono de um enorme poder de atração sobre quem acaba de descobrir o mundo. As palavras cantam para nossos sentidos recém despertados, sibilam para os ouvidos atentos de quem capta cada vislumbre vital do povo nas ruas. Crianças descobrimos as aventuras de Harry Potter, as desventuras dos irmãos Baudelaire, a graciosa literatura de Pedro Bandeira, cheia de um sentimento todo brasileiro, as narrativas heroicas dos protagonistas dos quais esquecemos os nomes, os contos de fadas que prometem durar para sempre...

Mas há também aqueles que demoram um pouco mais para descobrir a magia que emana dos livros. Gente revoltada na adolescência que repentinamente descobre Che Guevara e Karl Marx, com ímpetos de revolução. Menina apaixonada que conhece desde Mr. Darcy a Edward Cullen sem fazer grandes diferenças entre eles, além do amor cavalheiro que trazem em sua essência. Jovens brilhantes fantasiados por um manto de escuridão que leem Edgar Allan Poe e Augusto dos Anjos, mas têm grande curiosidade de saber o que se passa nos recantos mais ensolarados da Literatura, com o heroísmo do Ulysses de James Joyce.

Para as mentes mais adultas, restam todo um mundo de romances que cresceram, de dramas com frustrações terríveis e grandes arrependimentos, compreendidos apenas por quem já tomou os mais distintos rumos na estrada da vida. Talvez venha a calhar a sensibilidade contida no texto de García Márquez, o realismo de Machado de Assis, os mistérios de Agatha Christie e Conan Doyle ou a choradeira de Nicholas Sparks... Verdade seja dita, entretanto, que a literatura não distingue entre idades, entre gostos - duvidosos ou não-, todavia entre aqueles que estão dispostos a descobri-la e a decifrar os pormenores de sua alma.

Os livros, dignos até de um dia no calendário mundial, não foram feitos para enfeitar estantes e prateleiras, servindo de objetos de decoração para ambientes modernos ou antiquados. Não o foram tampouco para serem atirados ao lixo, como se não valessem a pena. Para sentirem em suas páginas o calor das chamas do ódio de quem tenta nos privar do conhecimento... Os livros foram feitos, sim, para serem amados, para serem devorados pela curiosidade dos leitores. Talvez sofram de algumas orelhas ou do efeito da idade, que os torna mais amarelados, mas também os renova e liberta. O amor dos leitores como carta de alforria... Para qualquer idade, para qualquer gosto, para qualquer coração disposto a amar e a ser amado. Dê uns poucos minutos do seu dia a um livro e ele lhe devolverá toda a sua alma, toda a sua sabedoria e os sentimentos de um autor, humano como você, que o habita eternamente.

Feliz dia mundial do livro!


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