07 abril 2012

Estilhaça-me, de Tahereh Mafi

Resenha da semana é uma coluna na qual Ana dá sua opinião a respeito do livro lido no momento, com direito a trechos e informações completas sobre a obra e o autor. 
Título: Estilhaça-me
Título original: Shatter Me
Autora:  Tahereh Mafi
Tradução de: Robson Falchetti Peixoto
Editora: Novo Conceito* (cortesia - editora parceira)
Número de páginas: 304
ISBN: 978-85-63219-90-9
Gênero: Literatura Norte-Americana; Distópico, Juvenil
"Você não pode me tocar - murmuro. Estou mentindo; é o que não digo a ele. Ele pode me tocar, é o que nunca lhe direi. Por favor, toque-me; é o que quero lhe dizer."
Distopia é palavra de ordem atualmente no que diz respeito aos gêneros literários, especialmente os juvenis. Os autores querem mostrar a nossa geração quanta responsabilidade lhe cabe em manter e sustentar uma democracia e seu direito impenetrável de liberdade.

A sociedade de Tahereh Mafi não foge a esses padrões terríveis, repressores e ditatoriais. O Restabelecimento é responsável por tomar conta de seu povo, principalmente de sua forma de pensar, ignorando a todos e os abandonando em estados de terrível pobreza, fome e doença. O nosso céu não é tão azul quanto antes, nosso ar é impuro, nossos animais estão morrendo e as pessoas nas ruas não carregam mais consigo uma palavra pequena, mas de valor imensurável: esperança. Juliette é um exemplo concreto disso. Está trancafiada há 264 dias em uma cela fechada sem ver nem tocar ninguém. Da última vez que suas mãos encostaram em outro corpo, um acidente horrendo ocorreu e lhe rendeu a acusação de assassinato, privando-a de tudo que tinha, não muito também.

Numa espécie de manicômio, a protagonista vive um caos pela solidão, contando as horas, dias e minutos e pedindo para que a morte lhe alcance tão breve quanto possível, muito rapidamente... Até o momento em que acontece algo errado e surge na cela um companheiro, um rapaz de olhos tremendamente azuis, aqueles olhos dos quais ela jamais seria capaz de se esquecer e, com ele, a possibilidade de servir ao Restabelecimento com poderes assustadores em troca de uma vida melhor. Ser arma ou guerreiro, é o dilema de Juliette.

Num primeiro momento, é inevitável não reparar na escrita de Tahereh Mafi, com uma destreza descompromissada de quem faz diferente, sabe que o faz e não se incomoda em estar desagradando. Os períodos curtos dão uma velocidade incrível à obra que apenas a torna mais e mais interessante. A palpabilidade dos sentimentos de Juliette e das outras personagens à sua volta é muito forte para o leitor, cada minúcia é descrita e, definitivamente, é um livro que pode ser devorado.

Se fosse para descrever Estilhaça-me em palavras, destacaria três: intensidade, tensão e paixão. Levando-se em consideração o abominável dom de Juliette de machucar as pessoas ao simples toque, a moça é introspectiva e fechada às relações sociais, mas anseia desesperadamente pelo contato humano, carnal e é a representação alegórica do desejo. Tudo é extremo, tudo acontece rapidamente e sob esse contexto, nem sequer soa artificial, todavia adequado, humano. A tensão oscila no âmbito passional e sensual, sexual até, sendo o relacionamento da protagonista com o mocinho (não citarei nomes) uma corrente muito forte e cheia de disparidades amorosas. Cada momento entre os dois se torna fogo e ternura, um desespero de tocar e ser tocado que ganha incrível eloquência pelas mãos da autora.

Por ser um volume introdutório, conhecemos, de certa forma, um lado exclusivo do Restabelecimento. O seu pior, que o antagoniza e causa tanto medo às pessoas, mas somos surpreendidos também pelos resquícios de humanidade e compaixão presentes em personagens como Warner, possessivo e doentio, porém cegamente apaixonado. Novamente por ser um volume introdutório, há muitas lacunas que ficam abertas para dar espaço às histórias dos livros seguintes.

Como muitos estão dizendo em suas resenhas e como podemos conferir na página oficial de Tahereh Mafi, Estilhaça-me foi considerado uma mistura sutil de Jogos Vorazes e X-Men, aliando o distópico ao sobrenatural, com a famosa escola de pessoas dotadas... E o leitor facilmente reconhecerá as semelhanças entre os três, mas concluirá, ao final, que são apenas referências e que a obra desta autora iniciante tem voz alta o suficiente para se fazer notar entre juvenis modernos, especialmente por ser tão intensa e apaixonada, uma grata surpresa no meio do percurso.
Ele ainda tem os olhos mais extraordinariamente azuis que já vi. Sombrios e profundos e saturados de paixão. Sempre me perguntava como seria ver o mundo através de lentes tão belas. Perguntava-me se a cor do olho era indício de que a pessoa enxerga o mundo de maneira diferente. Se o mundo, como resultado, enxergava a pessoa de maneira diferente também."
Avaliação Geral:
Nota 4 de 5 (Muito Bom)

Uma boa quinta-feira a todos!


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