06 julho 2012

Breve volta ao mundo em 30 dias: Argentina

A Casa Rosada, em Buenos Aires/ Fonte: Blog Pé no Chão
Ainda no começo desta semana, pedi para que os leitores, pelo Twitter e pelo Facebook, selecionassem entre Austrália e Argentina (houve empate, como podem ver na enquete ao lado). Decidiram-se, assim, pela Austrália, deixando a terra de nuestros hermanos para depois, o que, em outras palavras, significa hoje. Desta maneira, declaro que mais uma etapa de nossa viagem está prestes a começar. Prontos?

Caminito /Fonte: Blog Pé no Chão
Não muito distante do território brasileiro, a Argentina situa-se num dos extremos do continente sul-americano, compondo a América Platina, juntamente ao Paraguai e Uruguai. Descoberta nas expedições do italiano Américo Vespúcio em 1502, só passou realmente a ser colonizada pelos europeus - espanhóis, em sua maioria - no ano de 1534, quando parte de suas terras foram entregues a Pedro de Mendoza. Ao contrário de outras colônias mais ao norte, como o próprio Brasil, a Argentina não foi tão visada propriamente por sua matéria-prima, mais escassa se posta em comparação, contudo especialmente pela prata presente em suas terras (daí o nome do país: prata, em latim, é argentum). Em decorrência do número inferior de trabalho a ser feito, a presença de escravos africanos foi bem menor que em nossas terras e a exploração indígena, em contrapartida, maior.

Inspirada pela formação dos Estados Unidos da América e a Revolução Francesa, dois movimentos de cunho iluminista, o início do processo de independência da Argentina deu-se em 1810, com a Revolução de Maio, advinda da Junta de Buenos Aires, que despertou também diversas oposições internas no país semelhantes a outras que eclodiam em toda a América do Sul com grande apoio de Simón Bolívar contra as oligarquias federalistas que nasciam. Mais tarde, semelhantemente à toda América do Sul, a República Argentina tornou-se, enfim, uma democracia, governada atualmente pela presidente Cristina Kirchner.

Floralis, em Buenos Aires / Fonte: Facebook
Informações gerais
A Argentina é o segundo maior país sul-americano, ficando atrás apenas do Brasil. Estima-se que sua população esteja em torno de 41 milhões de habitantes atualmente, e seu IDH, contradizendo uma situação de pobreza generalizada na América Latina, é considerado bastante elevado. Seu idioma oficial é o espanhol, embora com um sotaque bem característico, e a moeda é o peso argentino, consideravelmente desvalorizado em relação ao real, o que auxilia no antagonismo entre nós e eles no quesito econômico.

A Livraria Ateneo, em Buenos Aires / Fonte: Deco, Carol e Buenos Aires
Buenos Aires: reconhecida como Capital Mundial do Livro pela Unesco
Em seu status de capital, era de se esperar que Buenos Aires tivesse abrangente influência na imagem argentina para todos que moram no exterior. O que muitos não conhecem, entretanto, é a tradição literária que lá vive há séculos, elevando a cidade ao título de Capital Mundial do Livro pela Unesco. Para compreender um pouco melhor a situação, basta imaginar que para cada 6000 habitantes em Buenos Aires, haja uma livraria (cerca de 370, no total), o que vai muito de contraste à mesma unidade para 30890 moradores de Brasília (a cidade brasileira que tem o maior número de leitores). 

As livrarias da capital têm seu charme próprio, agradando facilmente a leitores de todos os gostos possíveis. Se estiver em busca de uma grande rede (como a Saraiva, por exemplo), pode dar um pulo na Ateneo, que certamente encontrará aquele livro de que precisa; dela, há inclusive uma filial que tem estabelecimento no que antes fora uma ópera, de beleza ímpar para os visitantes. Se você for em busca de um livro específico e difícil de encontrar, que tal visitar uma das livrarias de viejo argentinas, equivalentes aos nossos sebos? Há ainda antiquárias, para os amantes dos clássicos e de antiguidades culturais ou, do interesse de todos, as de saldo, que vendem títulos esgotados nos catálogos convencionais ou até mesmo aqueles indisponíveis eternamente.
O tango Carlos Gardel / Fonte: Orkut

De minha parte, como já tive o privilégio de visitar Buenos Aires, posso dizer que as informações acima são mais que verídicas. Para qualquer leitor ávido, a capital argentina é um convite às letras, tamanha a influência cultural europeia que sofre. Caminhando pelas ruas da cidade, encontramos não apenas livrarias e bibliotecas, mas também muitos museus, teatros, cinemas e as famosas casas de tango, sendo a mais conhecida a de Carlos Gardel. Também a arquitetura é imponente - e belíssima, diga-se de passagem - remetendo a anos antigos. Pode parecer besteira, porém fiquei deslumbrada com a quantidade de argentinos que vi a caminhar e a se sentar em restaurantes e parques acompanhados de livros e revistas.

Cena de "O Segredo dos Seus Olhos" / Fonte: Uol Entretenimento
A literatura argentina: Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Ernesto Sábato e Alan Pauls
Confesso que muito pouco conheço da literatura argentina. E sinto por isso. Ao que me parece, temos em um de nossos países vizinhos uma extensa gama de ótimos autores merecedores de reconhecimento. Entre eles, comecemos com Jorge Luis Borges (1899 - 1986), um dos quais foi até mesmo publicado na recente coleção de clássicos da literatura Ibero-americana pela Folha de São Paulo, dono de uma obra caracterizada  pela constante fantástica em que se misturam criaturas exóticas e boas doses de humor. Entre elas, podemos citar "Ficções" e "O Aleph" (Paulo Coelho?).

Julio Cortázar (1914 - 1984) escrevia com uma proposta inovadora ao criar um estilo labiríntico no qual uma mesma história, no caso "O Jogo da Amarelinha", narra os encontros de um rapaz e uma moça latino-americanos em Paris podendo ser visto de diversos pontos de vista, com finais alternados nos quais a ordem dos capítulos pode mudar, o que, particularmente falando, achei fantástico.

Na literatura de Ernesto Sábato (1911 - 2011), encontramos um comprometimento mais forte com os ideias filosóficos e a história argentina, havendo extrema seriedade em suas obras, elogiadas até mesmo por Albert Camus. São de sua autoria os famosos "O Túnel" e "Sobre Heróis e Tumbas".

Mais recentemente, temos Alan Pauls (1959) que, inspirando-se em Cortázar, escreve uma obra de cunho não-linear, criando diferentes nuances da mesma história numa mistura de romance e suspense em "O Passado", inclusive adaptado para o cinema que, sendo de autoria argentina, é garantia de uma obra, pelo menos, interessante.

Fonte: Tell me Babi Tumblr
Curiosidades
- A Argentina tem em si um mundo de guloseimas: são deles os alfajores, empanadas, muito doce de leite e a famosa picanha, tendo em vista as prósperas criações de gado do país.
- Talvez não seja uma curiosidade, mas os argentinos são extremamente patriotas. Em Buenos Aires, vemos uma bandeira do país praticamente a cada esquina. Sério.
- Está na Argentina a segunda maior população judia das Américas, menor apenas que a dos Estados Unidos.
- Ao contrário de nós, os argentinos já ganharam dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro, um com "A História Oficial" (1986) e outro com "O Segredo dos Seus Olhos" (2010), do qual já falei a respeito no blog, aqui.

Fontes:
Independência da Argentina, em Educação Uol
Argentina, em Wikipédia
5 livrarias para conhecer em Buenos Aires, em Buenos Aires, Queridos
Um tour pelas livrarias de Buenos Aires, a capital mundial do livro, em Opera Mundi
Pesquisa da ANL divulga números de livrarias no país: 2680
Buenos Aires é a Capital Mundial do Livro em 2011; saiba por que ler autores argentinos, em Colherada Cultural



0 comentários: