26 julho 2012

Os Homens que Não Amavam as Mulheres


Título original: The Girl with the Dragon Tattoo
Lançamento: 2012 (EUA)
Direção: David Fincher
Atores: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer
Duração: 152 min
Gênero: Suspense

Em tratando-se de filmes, tenho uma mania um tanto quanto intuitiva de assistir a trailers e criar grandes expectativas em relação a seus enredos, provavelmente pela emoção que deve ser passada naquele curto espaço de tempo, às vezes até inferior a um minuto. Desta maneira, assistindo muito por acaso ao trailer de Os Homens que Não Amavam as Mulheres no cinema, fiquei bastante intrigada com o que aquela história tinha a oferecer, tamanho o mistério e a intensidade que os dois atores protagonistas aparentavam naqueles rápidos flashes de um longa que tinha tudo para ser, no mínimo, perturbador.

Dito e feito. Comecei a assistir ao filme com uns amigos e em meio àquela bagunça de "sessão com a galera', vi-me pedindo encarecidamente que fizessem silêncio para que eu pudesse, enfim, ser tragada pelo forte magnetismo de Mikael e, especialmente, da famosa garota com a tatuagem de dragão, Lisbeth. 
Daniel Craig como Mikael Blomkvist | Fonte: Cinepop

Numa fria Suécia, o jornalista Mikael Blomkvist vê sua carreira e vida sofrendo uma guinada após ser condenado por difamação ao tentar desmascarar, na Revista Millenium, as ações criminosas de uma importante personalidade sueca. Tendo em vista seu renome e típica curiosidade jornalística no ramo investigativo, entretanto, Mikael é convidado por Henrik Vanger, um influente empresário na fase terminal de sua vida, a escrever uma biografia sobre a família Vanger com o objetivo de persuadi-lo a encontrar as respostas para o enigma que ronda o desaparecimento de Harriet Vanger, sobrinha de Henrik e menina dos olhos desaparecida há mais de 40 anos sob suspeita de assassinato, do qual os principais acusados são os outros membros do conturbado clã em que cada um parece esconder um segredo obscuro.

Paralelamente a isso, Lisbeth Salander, jovem investigadora e hacker de excelência, leva uma vida conturbada sob a tutela do Estado, que a considera, nas palavras mais simples, louca e incapaz de manter qualquer tipo de contato social. Após aceitar a proposta de produzir um extenso relatório sobre a vida de Blomkvist, a moça se vê diante do mesmo numa oportunidade de ajudá-lo a solucionar o caso de Harriet, o qual pode estar ligado a uma série de outros crimes bárbaros em que as vítimas são mulheres.

Fonte: Cinepop
Apesar de a trama em si apresentar uma problemática bem mais ampla que a deste breve resumo, creio que ele contenha os detalhes essenciais para que o leitor capte a aura sombria e intrigante em torno da qual se passa todo o filme. Não somente o roteiro, baseado na trilogia de livros Millenium, publicada no Brasil pela Companhia das Letras, como cada elemento visual possível colabora para esse cenário. A fotografia é muitas vezes escura, monocromática, o inverno é retratado como muito rigoroso, há cigarros e fumaça por toda parte, as personagens têm semblantes perturbados, daqueles que a cada vislumbre capta-se um novo problema, um novo mistério. Um convite aos olhos curiosos de quem estiver, por acaso, mudando de canais na televisão e encontrar, repentinamente, com o longa.

Como também prezo em alta estima as críticas profissionais, fui assistir ao filme sem tantas expectativas, acreditando que a versão sueca (à qual ainda não assisti), deveria ser infinitamente melhor e bem dosada que esta hollywoodiana, uma origem já bem duvidosa para o cinema artístico e introspectivo. Um preconceito vão de minha parte e de tantos outros pois, mesmo não tendo conhecido a versão original, resisto em crer que os europeus tenham sido tão superiores assim. Até porque este Os Homens que Não Amavam as Mulheres pode ser facilmente confundido com produções do Velho Continente, salvo raras exceções de cenas mais dramatizadas nas quais talvez haja excesso de fogo ou de violência, uma característica que, a propósito, incorpora integralmente a trama. 

Para os impacientes, é um filme longo (cerca de duas horas e meia) e que requer uma parcela considerável de atenção, tamanha a rede intrincada de detalhes em que ele nos envolve; mas nada sobrenatural ou cansativo demais ao ponto de se perder ou de se entediar. Até porque há algumas cenas extremamente fortes em que é difícil pregar os olhos ou não ficar inconformado com os níveis aos quais a barbárie humana pode chegar. Esta densidade brutal e crua é parte da essência da história, que não quer poupar o espectador das minúcias de mentes criminosas e de mentes perturbadas, como as de Mikael e Lisbeth: ótimas personagens e o grande trunfo do filme, em minha sincera opinião.

Fonte: Blog Já Viu Esse
Eu poderia, inclusive, dedicar todo um parágrafo para divagar sobre o quão genial, perturbadora e complexa é a persona desta Lisbeth Salander,criada por Stieg Larsson e interpretada pela nova queridinha de Hollywood, Rooney Mara, uma mente que, arriscaria dizer, funciona de uma forma totalmente à parte, extremamente veloz, prática e, por conta de todos os infortúnios sofridos ao longo da vida, insensível. Uma personagem caricata, cheia de piercings, tatuagens, com um cabelo e um estilo punk, sobrancelhas brancas e olhos insondáveis, que compreende com facilidade a linguagem codificada da internet e que repele, em contrapartida, o toque humano em seu corpo ferido, buscando desesperadamente por ele noutros momentos. A relação mantida entre ela e Mikael no filme é a todo o tempo ambígua e, apesar da reserva do protagonista em sua eterna busca pela verdade, também foi um que despertou minhas dúvidas e minha admiração pela atuação de Daniel Craig, um dos últimos a interpretar James Bond nas telonas.

Apesar de também não ter lido o livro e de não poder traçar um paralelo entre os dois, creio que tenha sido uma adaptação muito bem feita, sem deixar pontos injustificados ou resumidos demais para os espectadores. Senti falta apenas de um aprofundamento maior sobre a questão dos crimes relacionados a um dos testamentos bíblicos contra mulheres. Foi um trecho que me deixou horrorizada e, no entanto, também com aquela curiosidade mórbida de quem assiste a algo terrível e quer saber como termina.

Aos ávidos por boas histórias, Os Homens que Não Amavam as Mulheres é uma indicação mais que válida. Aos preparados para emoções um pouco mais fortes que as proporcionadas por filmes comuns, é ideal. Aos fãs de um bom suspense, é obrigatório.


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