19 março 2013

Haicais: a poesia oriental que atravessou o oceano

Matsuô Bashô é a expressão máxima dos haicais no Japão | Fonte: Haikai.Postbit

Que a literatura brasileira tem uma relação fortíssima com a poesia, ninguém nega. De nossa terra bonita por natureza nasceram filhos pródigos que, deixando um pouco a prosa de lado, fizeram em sonetos seus amores, suas desilusões, sonhos e paixões.

Do outro lado do mundo, no entanto, mais especificamente no Japão, existe uma tradição poética que até hoje vai ampliando suas fronteiras. É a tradição dos haikais (ou haicais, no Brasil), uma composição lirica de três linhas, com algo em torno de 17 sílabas japonesas que obedece, em sua forma clássica, os pré-requisitos de falar sobre a natureza e usar o tempo presente. Em alguns casos, os haicais tradicionais também vêm acompanhados de imagens que ilustram as ideias que representam, chamadas haiga. Claro que, com as vanguardas e as novas escolas literárias, nem todos os poetas seguem as regras à risca. O que permanece em absoluto apenas, responsável por dar a essas poesias a identidade que as distingue é a estrutura do texto. Difícil olhar para um e não reconhecê-lo.


Entre os muitos escritores de haicais, especialmente os japoneses, nativos da terra na qual nasceu a tradição, o destaque fica com Matsuô Bashô, quem estabeleceu os cânones que regem este gênero de poesia. Sua ligação com os haicais era tão forte que, em dado momento, a sua criação poética se voltou a uma maneira de espiritualidade.
"Doente da viagem,
Meus sonhos perambulam
Pelo campo seco."
Último haicai de Matsuô Bashô. Acredita-se que tenha sido ditado por ele algum tempo antes de sua morte.
No Brasil, fugindo à tradição e às facetas múltiplas de Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Mário Quintana (também tem haicais escritos), Vinícius de Moraes, Olavo Bilac e Augusto dos Anjos, grandes nomes de diferentes fases de nossa poesia, por exemplo, surge Paulo Leminski, grande admirador e estudioso de Matsuô Bashô - o escritor redigiu um livro sobre o poeta japonês - que, em um longo período de sua criação literária, se dedica à arte de fazer haicais.

Às vezes seguindo os pré-requisitos do texto clássico, noutras impondo claramente o estilo nacional e o seu próprio de poetizar, Leminski é autor de uma extensa coleção desses poemas japoneses. Recentemente, inclusive, saiu pela Companhia das Letras uma antologia na qual o leitor poderá desfrutar de toda a sua obra poética: Toda Poesia (aquela linda edição laranja com bigodinho de Leminski).

Entre eles, alguns dos mais inspiradores, na perspectiva da blogueira que lhes fala, abaixo:
"tudo dito,
nada feito
fito e deito."
Paulo Leminski
Paulo Leminski | Foto: Manoel Neves
"amar é um elo
entre o azul
e o amarelo."
Paulo Leminski
"ameixas
ame-as
ou deixe-as."
Paulo Leminski
"que tudo se foda
disse ela
e se fodeu toda."
Paulo Leminski
"acordei e me olhei no espelho
ainda a tempo de ver
meu sonho virar pesadelo."
Paulo Leminski
"a vocês, eu deixo o sono
o sonho, não!
este eu mesmo carrego."
Paulo Leminski
"abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
antigamente eu era eterno."
Paulo Leminski
Outros haikais


Imagem: Vendaval das Letras
Imagem: Alunos Online

Ficou a fim de fazer o seu próprio haicai? Então compartilhe-o conosco. Três versos e algo em torno de 17 sílabas, será que dá?

Fontes: 
Haikai, em Wikipédia
Matsuô Bashô, em Wikipédia
O que é Haicai?, em Recanto das Letras
Haicai - História e Mestres, em Nippo Brasil


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